(por Dolores Marques)

Estudo do espaço e planta baixa do cenário

Introdução:

Diz que uma imagem está equilibrada, ou seja, tem equilíbrio gráfico, quando todos os elementos que a compõe estão organizados de tal forma que nada é enfatizado. Todos passando uma sensação de equilíbrio visual. Este equilíbrio pode ser dinâmico ou estático, dependendo do movimento gráfico da imagem.

Uma imagem está desequilibrada, quando alguns elementos estão enfatizados de tal forma que estes parecem pesar apenas um lado da imagem. Isso não quer dizer assimetria, pois uma imagem assimétrica também pode ser equilibrada.

O mundo é formado de equilíbrio. De modo que as coisas naturalmente tendem a margear um ponto central, como uma gangorra. Um meio-termo.

Idéia Inicial: Conceito de Gangorra

Imagine que cada frase polêmica de um personagem pode ser representada como uma gangorra. E o posicionamento de cada personagem afetado dependerá de onde  o outro se posiciona na gangorra. Nesta nossa gangorra, entretanto, cada personagem poderia escolher ficar mais próximo ou mais afastado do centro o quanto quisesse. E até mesmo no centro. E se houvesse um grande descuido, a gangorra cairia pra um dos lados, deixando aparente um desequilíbrio total.

O projeto inicial tinha como proposta deixar visível o peso de cada fala das personagens, mostrando os extremos opostos, na tentativa de balancear a gangorra através do jogo cênico proposto pelo diretor. Quanto mais afastados do centro rumo ao extremo oposto, maior será a força da alavanca, melhorando as chances de manter o equilíbrio.

Essa incessante busca por equilíbrio, em termos físicos, durante a cena seria o reflexo da disputa de palavras que acontece acirrada, seja por meio do rap, do jiu-jitsu etc, ou até mesmo do simples diálogo.

Mas tal estrutura custaria muito, em termos financeiros, para ser realizada em uma prática da UNIRIO, então tivemos que repensar no que fazer.

Segunda Idéia: Debaixo do Viaduto

Apesar de não haver indicações de espaço, o texto nos leva a sentir uma atmosfera tensa, de ilicitude, onde aquele local ao qual as personagens se encontram é entendido como um lugar onde acontecem transações ilegais.

Resolvi, então, basear o cenário em fotos que encontrei de lugares urbanos considerados perigosos. Foi aí que cheguei a uma imagem que se aproximou muito com tudo o que já foi dito antes: uma foto tirada debaixo de um viaduto, com postes de luzes fracas, pixações, coisas jogadas e entulhadas, pilares etc.

Concluí que era o ambiente certo para que houvesse, além do clima, uma preocupação estética em relação aos planos e cortes, tal qual já havíamos discutido que seria bem interessante de se ter, de forma que, dependendo do ponto de vista do espectador, poderia ser visto apenas um “recorte” da cena, um enquadramento peculiar de um ator.

O chão onde os atores pisam seria inclinado para que houvesse uma certa desestabilidade, e onde se poderia ter um lado mais elevado que o outro, mantendo um resquício do conceito inicial da gangorra, onde uma personagem poderia estar acima do outro em relação ao que está sendo dito.

Por ser um viaduto, a idéia de se ter um teto curvilíneo, onde a curva vai diminuindo sobre as cabeças dos atores, também me agradaria, pois nos remete a uma certa “pressão” que vem de cima e, mais uma vez, enfatiza a idéia de se estar num nível abaixo do normal.

Mas ao longo das conversas que as equipes tiveram, chegamos, finalmente, à conclusão de que o que se queria era um lugar “experimental” e abstrato.

Foi então que voltei às minhas primeiras referências iconográficas: o espaço expressionista pós-moderno de Frank Gehry.

Conclui que essas referências se encaixariam perfeitamente com o projeto, pois me ajudariam a pensar em como desenhar no espaço, com sutileza e harmonia, os diferentes planos e recortes dos quais não queria abrir mão, pois, a meu ver, só teriam a acrescentar nas cenas desenvolvidas pelo diretor.

Referências

Frank Gehry:

Conhecido pelo seu design arrojado na arquitetura, repleto de estruturas curvas, geralmente em metal. Seus projetos, implantados em diferentes cidades do mundo, tornaram-se atrações turísticas e incluem residências, museus e sedes de empresas. Sua obra mais famosa é o Museu Guggenheim Bilbao, em Bilbao, Espanha, todo feito revestido de titânio. Outros projetos importantes são o Walt Disney Concert Hall no centro de Los Angeles, a Casa Dançante em Praga, República Checa, e sua residência particular, em Santa Mônica, California, os quais marcaram o início de sua carreira.

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